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Era uma vez uma tecedeira, filha de um pescador. A tecedeira era jovem e inexperiente no trabalho que fazia, devido a esta falta de experiência demorava uma eternidade a finalizar os pedidos de clientes e acabava por perder muitos devido á espera prolongada.

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Certo dia num final de tarde frio e chuvoso aparece-lhe á porta um homem que nunca tinha visto antes na localidade, era alto e elegante, tinha cabelos negros e uma pele pálida quase branca, trazia na sua mão direita uma bengala enquanto que a outra mão segurava um relógio de bolso. Reparou que não trazia um casaco vestido e achou estranho pois estavam em pleno inverno. Pensando tratar-se de um viajante pergunta-lhe se está perdido.

- Estou exactamente onde devo estar minha jovem. Ouvi falar de uma tecedeira na região e tenho um pedido peculiar e de grande importância. Como pode ver perdi o meu casaco e precisava de um tecido exuberante e de grande qualidade para poder fazer outro que o substitua... contudo preciso que seja um tecido com uma tonalidade escarlate sangue... - responde o homem pálido olhando impaciente para o relógio.

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A tecedeira ficou intrigada com tal pedido enquanto olhava para o homem pálido que não punha sequer um dedo alem da porta, acabou por aceitar o pedido e pediu que ele retornasse no espaço de uma semana. Assim que acabou de anotar o pedido lembrou-se de perguntar o nome mas o homem pálido já tinha desaparecido.

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Passado uma semana e novamente em um final de tarde a tecedeira ouve alguém a bater á porta. Era o homem pálido. A jovem entrega-lhe o tecido mas este rejeita-o pois não estava com a tonalidade certa que ele desejava.

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A tecedeira estava sobrecarregada de trabalho, tinha vários pedidos para terminar e encontrava-se numa situação em que lhe era humanamente impossível concluir o seu trabalho. O homem pálido que tanto desejava o seu tecido num tom escarlate-sangue recusava sempre os tecidos que ela fazia... Certa noite o homem pálido visita-a e vendo a situação em que se encontra promete-lhe que se conseguir fazer um tecido que lhe agrade que lhe dará quatro rubis.

- Se aceitar este pagamento conseguirá dar um novo impulso ao seu negócio, poderá expandir e contratar pessoas para auxiliar a mão-de-obra. Poderá ter a capacidade e velocidade de quatro pares de braços para tecer...

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Guiada pela ganância e desejo de tornar a sua vida mais fácil a tecedeira ignora todos os pedidos excepto o do homem pálido. Passa dias e noites a tecer até ao ponto de os dedos ficarem cortados e dilacerados de tanto tecer...foi nesse instante que reparou na tonalidade exuberante e radiosa com que o tecido ficava quando o seu sangue gotejou em cima dos fios com que tecia... Pegou num frasco e decidiu enchê-lo com o seu próprio sangue. No meu da sua loucura parou a tempo antes de esvair em sangue. Pensou com calma e obviamente que apenas o seu sangue não seria suficiente para tingir o tecido...

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Certa noite a jovem tecedeira termina o tão desejado tecido e fica a observar a sua obra escarlate. Segundos depois ouve um bater á sua porta. Era o homem pálido. Assim que a tecedeira abriu a porta o olhar do homem caiu imediatamente sobre o tecido que a jovem tinha nas mãos.Ficando apenas á porta ele gesticula que lhe passe o tecido... Ao passar-lhe o tecido para ele examinar os seus olhos irradiam-se de contentamento, coloca o tecido sobre as suas costas e lentamente o tecido começa a adaptar-se e a moldar-se ás linhas do seu corpo transformando-se num casaco luxuoso e com um tom escarlate-sangue radiante. O homem pálido deixa cair quatro rubis á entrada da porta e vira as costas...

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- Agradeço por este trabalho exemplar...Tal como lhe disse, terá o que lhe prometi... - sussurrou entre dentes enquanto sorria observando o seu casaco.

Ao prosseguir o caminho pela rua estreita, as suas passadas assemelhavam-se ao som de cascos... á medida que ele se afastava a jovem reparou que ele ía mingando em altura como se estivesse a descer umas escadas até que acabou por sumir completamente...

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A partir desse dia e todas as noites a tecedeira viu-se amaldiçoada com a promessa do homem pálido... sem cessar e desde o anoitecer até ao nascer do sol a jovem tecedeira tecia os seus fios escarlates tingidos pelo sangue de alguém...

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